Imperialismo é a forma de expansão dos Estados mediante o domínio de outros povos, quer pela conquista ou anexação territorial, quer pelo controle de natureza política, econômica, cultural.
ORIGEM
Com esse sentido, o termo imperialismo (imperialism) surgiu na Inglaterra, nos anos 70 do século XIX. E não por acaso, uma vez que a Inglaterra desenvolveu longa política imperialista em várias partes do mundo, e que foi conhecida na própria carne pelo Brasil por ocasião da Independência (1822).
A Inglaterra, impondo-se como mediadora do litígio entre Brasil e Portugal, tirou largas vantagens do episódio: resgate pelo Brasil de vultoso empréstimo contraído pelo Parlamento português junto aos bancos ingleses quando da permanência, no Brasil, ao longo de treze anos (1808-1821), de D. João VI, que foi regente, de 1799 a 1816, e rei de portugal, Brasil e Algarves, de 1816 a 1826; tarifas aduaneiras privilegiadas para produtos ingleses importados, sujeitos a uma taxação ad valorem inferior até mesmo à das mercadorias portuguesas, daí resultando o embotamento da nascente indústria nacional, economicamente incapaz de competir com o que era importado da Inglaterra. Estas, entre outras, as condições necessárias para o reconhecimento da Independência do Brasil, sob pena de retorno ao statu quo ante patrocinado pela Inglaterra.
O procedimento imperialista desenvolveu-se num crescente ao longo do século XIX, chegando às conquistas territoriais na Ásia e na África por parte da Inglaterra (que dominou extensas áreas no mundo todo), França e Alemanha, além das levadas a efeito pelos Estados Unidos no Havaí, Filipinas, Cuba e boa parte do México, sem esquecer o controle não raro tutelar exercido pelo mesmo país sobre todas as nações da América do Sul e Central, a partir da última década do século passado. Alemanha, Japão e Itália, antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), também executaram uma política imperialista agressiva, ocupando pelas armas vários países.
IMPERIALISMO ECONÔMICO
O imperialismo econômico sempre se manifestou sob várias formas, tais como o monopólio de extração de produtos naturais de certos países; investimentos na área industrial sem restrições para a remessa de lucros para o exterior; domínio da exportação de matérias-primas que, manufaturadas, retomavam pela via da exportação, previamente assegurada, e assim por diante.
Por trás desse imperialismo, não é difícil encontrar o fomento de grandes grupos financeiros. Na Inglaterra, em fins do século XIX, pregava-se ostensivamente a adoção de uma política imperialista como condição necessária à revitalização da economia interna, com a expansão dos mercados externos e a multiplicação de oportunidades de trabalho para os que emigrassem do Reino, então superpovoado. “Se quisermos evitar a guerra civil, importa que nos tomemos imperialistas”, sustentava o líder político inglês Cecil Rhodes, em 1895.
IMPERIALISMO POLÍTICO
O imperialismo político, quando não decorre de conquistas ou anexações territoriais, pode efetivar-se através de vários mecanismos, aptos a subordinar povos e países a comandos determinantes, procedentes de força estatal mais poderosa. Proverbial, nesse sentido, depois da Segunda Guerra Mundial, foi o domínio da antiga União Soviética sobre os países do Leste Europeu, cuja eventual insubmissão os sujeitou à dialética dos tanques (Hungria, 1956, e Tcheco-Eslováquia, 1968). Não menos proverbial tem sido o onímodo controle dos Estados Unidos sobre outros países, especialmente os centro-sul-americanos, submetendo-os ademais a pressões condicionantes da adoção de esquemas institucionais norte-americanos.
IMPERIALISMO CULTURAL
O imperialismo econômico e o político nunca vêm sozinhos. Segue-lhes sempre a esteira o imperialismo cultural, que se utiliza de meios macios e sutis para permear e saturar os espíritos, condicionando-os à absorção de “novos” valores culturais que, por processo lento, mas constante, vão produzindo a erosão da identidade nacional. Sob o signo da novidade, modas e modos vão-se introduzindo, hábitos e crenças vão-se incrustando, padrões de comportamento vão-se implantando. Ao cabo de certo tempo, fica comprometido se não invertido o estilo de vida original e autônomo. Nesta altura, as mentes, anestesiadas, tornam-se receptivas a modelos e ideologias mais convenientes às pretensões imperialistas.
À parte o baldão de propaganda comunista em que se transformou a expressão “imperialismo ianque”, para o visionarismo marxista “o imperialismo é a última fase do capitalismo“. E a “véspera do socialismo“, conforme Lênin (1870-1924), porque determina a concentração da produção e do capital, com a eliminação das pequenas e médias empresas, a acarretar a miséria irreversível do proletariado e o consequente triunfo da Revolução.
A história encarregou-se de provar, porém, a falsidade desse profetismo. O capitalismo, depois de Lênin, foi sofrendo transformações em decorrência de vários fatores, tanto no que se refere à humanização das condições de trabalho do operariado, quanto no tocante à mudança no processo de produção, por força das ações da tecnologia. Em contrapartida, o Socialismo é que acabou desmoronando de forma espetacular, tanto na ex-URSS quanto nos seus antigos satélites do Leste Europeu (1989-1991), até então submetidos ao “imperialismo soviético”.
CONCLUSÃO
Um sistema de estruturação da ordem internacional com base num poder supranacional de índole federativa, visando a obviar problemas como o do imperialismo, tende a incorrer na utopia mecanicista, afrontando as imperiosas exigências de ligações concretas do homem com o meio sócio-histórico em que vive.
A prevalência da filosofia do interesse, de fundo eminentemente exclusivista, põe a perder qualquer esquema, por mais engenhoso que seja, tendente a resolver os problemas internacionais. Haja vista que, antes da invasão do Kuwait (1990), os melindres jurídicos da ONU não sofreram nenhum arrepio diante da expansão de Israel em territórios da Cisjordânia e do Líbano, ou da ocupação de territórios do Líbano pela Síria, ou da anexação do Tibete pela China, ou da invasão do Afeganistão pela Rússia, que, para manter a anexação da Lituânia, Letônia e Estônia, também revigorou, em 1991, a dialética dos tanques.
Na verdade, somente a fundamentação das relações internacionais nos princípios de ordem moral (que não se compadecem com a política de “dois pesos e duas medidas”), articulados com alguns poucos, mas eficazes instrumentos jurídicos em mãos de um juízo arbitral neutro e de livre escolha pelas partes, pode assegurar o direito à existência de todos os povos, mediante uma convivência justa e uma cooperação efetiva, que superem os egoísmos nacionais, responsáveis pelo fomento dos imperialismos.
Fonte: Dicionário de Política – José Pedro Galvão de Sousa
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